Hoje, proponho um olhar atento sobre o aprendizado motor nas aulas de Educação Física e a importância de resgatar vivências corporais na infância, adolescência e vida adulta. O desenvolvimento motor é um pilar essencial na formação integral de uma pessoa. Durante a infância e adolescência, especialmente no ambiente escolar, o aprendizado motor por meio dos esportes e das atividades físicas proporciona benefícios que vão muito além do corpo — fortalece a mente, estimula a socialização e contribui para o crescimento emocional e cognitivo.
Minha preocupação, no entanto, é com a crescente falta de estímulo à prática de atividade física entre crianças e adolescentes. A vida moderna, marcada pelo excesso de telas, pelo sedentarismo e pela rotina acelerada das famílias, tem afastado cada vez mais os jovens do movimento, da brincadeira ativa e do esporte regular. Essa realidade foi agravada por um marco histórico e social recente: a pandemia de 2020.
O período de isolamento social interrompeu abruptamente a vivência motora de milhares de estudantes. Segundo a Fiocruz, durante a pandemia a proporção de famílias que seguiam as diretrizes de atividade física para crianças caiu de 61,43% para 38,57%, e o respeito ao tempo de tela adequado passou de 67,22% para apenas 27,27% (Agência Brasil, 2023). Além disso, dados do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira indicam que a inatividade física entre adolescentes brasileiros subiu de 71,3% para 84,3% no período pandêmico (Scielo, 2022).
Diante desse cenário, o papel do professor de Educação Física se torna ainda mais essencial. Mais do que ensinar esportes tradicionais, é responsabilidade pedagógica do educador oferecer aos alunos uma ampla gama de experiências corporais. Atividades variadas, como esportes alternativos, jogos cooperativos, práticas de aventura, dança e movimentos não convencionais, provocam desequilíbrios saudáveis no corpo e no cérebro — exatamente o que favorece novas conexões neurais, melhora a coordenação motora e amplia o repertório motor e cognitivo dos estudantes.
No Colégio Dom Feliciano, por exemplo, o plano macro de aulas de Educação Física contempla uma proposta pedagógica ampla e atualizada. Durante o ano letivo, os alunos vivenciam esportes como o badminton, o ultimate frisbee e o flag football — este último, inclusive, já confirmado como modalidade olímpica para os Jogos de Los Angeles 2028. Também são exploradas lutas, esportes coletivos clássicos e experiências motoras ligadas às práticas corporais de aventura urbana. Essa diversidade de conteúdos garante que os estudantes desenvolvam não apenas habilidades motoras, mas também competências socioemocionais e cognitivas fundamentais para a vida.
A diversidade de vivências corporais nas aulas potencializa os ganhos motores e enriquece o processo pedagógico. Cada nova experiência exige do aluno adaptação, tomada de decisão, criatividade e consciência corporal. É nesse contexto que o movimento se torna linguagem, construção e transformação.
Durante a vida escolar, o contato com diferentes modalidades prepara o aluno para adotar um estilo de vida ativo e consciente, que pode (e deve) ser mantido também na fase adulta. Educar pelo movimento é mais do que ensinar um esporte. É formar cidadãos saudáveis, críticos e preparados para os desafios físicos e emocionais da vida.
E não podemos esquecer das memórias que carregamos do brincar em família, das brincadeiras de rua, do tempo em que correr, empinar pipa e jogar taco eram rotina. Precisamos resgatar esse tempo e essa essência. Recentemente tivemos uma oportunidade linda de reviver essa alegria, com a realização do 12º Encontro de Carrinho de Lomba. Foi um momento especial para muita gente: estar junto, rir, aprender e reaprender a brincar em família. Foi um dia de muitas memórias afetivas e movimento de verdade.
*Junior Damiani é educador físico, fundador da VOM (Viva o Movimento) e professor do Colégio Dom Feliciano.