A ansiedade é uma resposta natural do nosso corpo diante de situações de incerteza, estresse ou ameaça. Todos nós sentimos ansiedade em algum grau. No entanto, quando essa sensação se torna frequente, intensa e difícil de manejar, ela pode interferir em diferentes áreas da vida – inclusive na relação com a comida.
É comum que, diante da ansiedade, algumas pessoas sintam mais fome, outras percam completamente o apetite. Há também quem utilize a alimentação como uma forma de anestesiar o desconforto. Não raro, a comida ocupa o papel de refúgio, recompensa, distração ou forma de regulação emocional.
Mas por que isso acontece?
A explicação não está apenas na mente – está também no corpo. Estados ansiosos ativam o sistema nervoso, liberam cortisol e adrenalina, e alteram o funcionamento do apetite. Além disso, se aprendemos, ao longo da vida, que comer pode oferecer alívio ou acolhimento, é natural que essa seja uma das primeiras estratégias acionadas quando nos sentimos emocionalmente sobrecarregados.
O problema não está em comer diante da ansiedade. O problema começa quando a única forma de lidar com ela passa a ser a comida – ou quando, depois de comer, a pessoa se julga, se culpa e entra em um ciclo de rigidez, restrição e punição.
A alimentação emocional, por si só, não é um erro. Ela é uma linguagem. Um pedido de ajuda do corpo e da mente. Por isso, o convite não é para controle absoluto, mas para a escuta: o que está acontecendo comigo quando sinto que perco o controle? O que estou tentando evitar, aliviar ou calar?
Na prática clínica, a psicoterapia tem se mostrado uma ferramenta fundamental para ajudar pessoas a reconhecerem seus gatilhos emocionais, diferenciarem fome física de fome emocional e, principalmente, desenvolverem formas mais flexíveis, saudáveis e compassivas de cuidar de si.
A ansiedade não precisa ser inimiga. E a comida não precisa ser campo de batalha. Ambas podem ser compreendidas com mais gentileza – e a partir desse espaço de compreensão, a mudança se torna possível.
*Nathalia Rocha Gomes é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia do Esquema. Compartilha conteúdos sobre sua área de atuação no Instagram @nathaliapsi.