Quando a alimentação vira dor: o que precisamos falar sobre transtornos alimentares

 

Transtornos alimentares são quadros clínicos complexos e silenciosos. Muitas vezes, eles se instalam devagar – entre elogios ao “corpo novo”, regras alimentares disfarçadas de autocuidado e o orgulho por “conseguir dizer não” à fome. Quando nos damos conta, a comida já deixou de ser fonte de nutrição e prazer, e passou a ser motivo de controle, culpa, punição ou medo.

Estamos falando de algo que vai muito além de “querer emagrecer”. Anorexia, bulimia, transtorno de compulsão alimentar e outros quadros envolvem sofrimento psíquico intenso, distorções na percepção corporal, e um senso de valor pessoal profundamente atrelado ao corpo, ao peso e ao desempenho.

A cultura da dieta – essa que nos ensina que magreza é sinônimo de sucesso, disciplina e merecimento – é o terreno fértil para o desenvolvimento desses transtornos. Ela romantiza restrições, glorifica corpos extremamente magros e trata comportamentos adoecidos como metas a serem batidas.

Enquanto sociedade, ainda olhamos para os transtornos alimentares com pouco entendimento e muito julgamento. Comentários como “é só comer direito”, “falta força de vontade” ou “todo mundo come demais às vezes” revelam o quanto ainda há desconhecimento sobre o que realmente está em jogo.

Transtornos alimentares não são fases, manias ou exageros. São transtornos mentais graves, com riscos físicos e emocionais importantes – e que precisam ser tratados com seriedade, escuta qualificada e cuidado multiprofissional.

Na psicoterapia, o trabalho vai além da comida: tocamos em temas como autoestima, autocrítica, trauma, vergonha, controle, rigidez e relações familiares. É um processo de reaprender a olhar para si sem se reduzir ao espelho ou ao prato.

Se você convive com alguém que sofre com isso, evite comentários sobre corpo e alimentação. Esteja presente, mas sem cobrança. E, se possível, encoraje essa pessoa a buscar ajuda profissional. Se você é quem sofre, saiba: você não está sozinha. E há caminhos possíveis para reconstruir sua relação com o corpo, a comida – e com você mesma.

Transtornos alimentares podem ser devastadores. Mas, com acolhimento e tratamento adequado, também podem ser tratados. E vencidos.

*Nathalia Rocha Gomes é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia do Esquema. Compartilha conteúdos sobre sua área de atuação no Instagram @nathaliapsi.

 

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