A amamentação é um dos gestos mais poderosos de cuidado que uma mãe pode oferecer ao seu bebê. Muito além de alimentar, o aleitamento materno é um momento de conexão profunda, segurança emocional e construção de saúde para toda a vida.
Como pediatra e mãe, vivi na pele os desafios e as delícias desse processo. E posso afirmar com convicção: amamentar é natural, mas também é aprendido. É um caminho que exige informação, paciência, apoio e presença. Não precisa ser perfeito, mas pode (e deve!) ser possível.
Entre os principais cuidados nesse momento, está a garantia de um ambiente tranquilo e confortável, a observação dos sinais do bebê, a manutenção da boa hidratação, a boa alimentação e a solicitação de auxílio quando necessário. A pega correta é essencial: a boca do bebê deve estar bem aberta, abocanhando boa parte da aréola, e não apenas o bico do peito. Isso evita dor, feridas e garante que o leite seja bem aproveitado.
Amamentar em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê quiser, fortalece o vínculo e ajuda a manter uma boa produção de leite. Cada bebê tem seu próprio ritmo. Nos primeiros dias, especialmente se houver baixo peso, é importante acordá-lo a cada duas ou três horas. Mas, com o ganho de peso adequado, o próprio bebê tende a regular suas mamadas com o tempo.
O leite materno é uma substância viva e inteligente: adapta-se às necessidades do bebê, mesmo que a alimentação da mãe não seja perfeita. Ainda assim, uma dieta equilibrada ajuda na saúde física e emocional da mulher. Priorizar alimentos naturais, ter boa hidratação e evitar ultraprocessados são pontos importantes, sempre respeitando as individualidades de cada dupla (mãe-bebê).
Algumas dúvidas são comuns e merecem acolhimento. Prótese mamária, por exemplo, raramente interfere na amamentação. Já cirurgias como a mamoplastia redutora podem apresentar mais desafios, dependendo da técnica cirúrgica e da preservação dos ductos.
E aqui compartilho um pouco da minha história. Passei por uma mamoplastia redutora antes de ser mãe. Com minha primeira filha, não consegui manter a amamentação exclusiva e precisei introduzir complemento. Mesmo assim, mantive a amamentação mista até os seis meses. Já com meu segundo filho, a experiência foi completamente diferente: amamentei exclusivamente até os seis meses e seguimos juntos nessa jornada até os três anos e meio.
A diferença? Dedicação, busca por informação e o apoio de uma consultora de amamentação maravilhosa. Me entreguei com mais afinco à tarefa e descobri que, mesmo diante de obstáculos, cada história pode ter um final feliz quando há suporte e persistência.
Amamentar não é responsabilidade exclusiva da mulher. É uma construção coletiva. É tarefa da família e da sociedade cuidar de quem cuida. O recém-nascido precisa de colo, calor humano e contato pele a pele. Precisa de presença! E isso é algo que nenhum leite artificial pode oferecer!
Amamentar é um ato de entrega, mas também de fortalecimento. É um momento em que a mãe se redescobre, em que o bebê se sente seguro no mundo. É a primeira grande troca de amor da vida! E deixa marcas que vão muito além da infância.
*Dra. Catherine Cadore é médica pediatra do Hospital Dom João Becker e foi a entrevistada do programa Papo de Saúde de terça-feira (12/8), transmitido pelo Instagram do Giro de Gravataí.