O sistema digestório de bebês e adultos é diferente. Nos bebês, essa estrutura ainda é imatura, assim como o sistema nervoso, que também influencia na digestão. Além disso, alergia à proteína do leite (APLV) e a intolerância à lactose são condições frequentes na faixa etária pediátrica. Tudo é aprendizado, tanto para os pequenos quanto para os pais.
A capacidade gástrica dos bebês é pequena e vai aumentando com o tempo. Aos poucos, eles aprendem a digerir os alimentos, evacuar e eliminar gases. Cerca de 20% apresentam cólicas e a causa ainda não está bem definida. Há fatores familiares, alterações de motilidade do intestino e colonização por bactérias, além de alterações hormonais e imaturidade do sistema nervoso.
O mais importante nesses casos é assegurar aos pais que o bebê não apresenta uma doença e que as cólicas costumam cessar entre o terceiro ao quinto mês de vida. Nosso papel, como médicos, é de auxiliar para que tanto a criança quanto seus cuidadores enfrentem essa situação com tranquilidade.
Em relação às intolerâncias, é importante fazer uma distinção. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma reação imunológica do organismo. Os sintomas são variados, podendo incluir manchas na pele, dificuldade em ganhar peso e presença de sangue ou muco nas fezes. Já a intolerância à lactose se caracteriza pela falta parcial ou total da lactase no organismo. Essa enzima é responsável por digerir alimentos com lactose, como leites e queijos. Com a deficiência, o paciente pode apresentar dor abdominal, distensão, diarreia ou constipação, entre outros sintomas, impactando significativamente na qualidade de vida.
Os bebês não nascem com APLV. Ela é uma condição que se desenvolve pela reação do sistema imunológico. Já a intolerância à lactose pode ser congênita, embora rara, ou adquirida, sendo essa a forma mais comum. A apresentação das alergias e intolerâncias alimentares pode ser bem variada, indo de leve desconforto à limitação importante da qualidade de vida. Intolerância à lactose não oferece risco de vida, já a alergia à proteína do leite, em alguns casos, pode levar a condições graves, principalmente se ocorrer anafilaxia.
Para bebês e crianças com APLV o tratamento consiste na exclusão total de alimentos que contenham leite. Deve-se ter o cuidado em ler os rótulos, além de excluir leite e derivados da dieta da mãe que amamenta. Também é possível fazer uso de fórmulas isentas de proteína. Já para intolerantes o tratamento é a exclusão de alimentos que contenham lactose ou o uso da medicação lactase, que é a enzima necessária para a digestão desse açúcar.
Muitas vezes os sintomas de alergia e intolerância ao leite se confundem com manifestações benignas comuns da infância. Muitos bebês apresentam cólicas, por exemplo, ou regurgitação, sem que isso signifique uma doença. Dor abdominal, distensão, constipação também são sintomas frequentes em bebês, crianças e até mesmo adolescentes, e devem ser sempre avaliados pelo pediatra.
*Dra. Juliana Coronel é médica gastropediatra do Hospital Dom João Becker. Também atua como endoscopista. A especialista participou na terça-feira (27/5) do programa Papo de Saúde, uma parceria do Giro de Gravataí com o Hospital Dom João Becker.