Cultura woke: A história que não é contada

 

Após lançamentos de várias produções recentes, começou a eclodir uma revolta com temas e abordagens utilizadas em filmes, HQs, livros e séries, que uma parte dos usuários criticam como algo negativo, desnecessário ou ainda de propagação da cultura woke. Mas o que é cultura woke?

A palavra woke é uma variação do verbo wake e significa acordar, despertar. A origem do termo vem da comunidade afro nos Estados Unidos e estar/ser woke é justamente estar atento à justiça social/racial. Na última década, a expressão cresceu para alertar sobre problemas sérios, a exemplo das denúncias de racismo. Até o dicionário Oxford incluiu o termo como sinônimo de estar atento a questões sociais e políticas. Parece algo bem positivo para uma sociedade, não? Depende de quem ouve essa pergunta.

Em dado momento da história atual, a crítica a essa cultura se tornou recorrente por parte do público com relação às produções que trazem essa provocação, porém a pergunta que fica é: há algo negativo em pensar sobre problemas sociais? Afinal de contas, isso começou recentemente ou é histórica essa provocação e crítica a determinados padrões? Bom, vamos juntos verificar o quanto a história do universo geek desafia o social?

“Star Wars” não é sobre conflitos políticos e a importância da liberdade, do que é bom ou mau? Os heróis da Marvel e DC, apesar de surgirem como deuses, não abordaram suas humanidades ao longo de suas histórias? O primeiro herói da Marvel (lá em 1962) a se questionar acerca do bem e do mal, da justiça e se poderia ou não matar foi “Peter Parker”. Já pela DC, em 1938, na Action Comics, “Superman” trouxe a história de uma criminosa que fez um homem ser incriminado no lugar dela. Aliás, entre a edição 1 e 2, ele investiga um lobista e outros envolvidos que planejam uma guerra contra a Europa e a impede…

O “Superman” de 2025 recebeu muitas críticas por esses assuntos! E a “Mulher Maravilha” então? – em 1941 surgiu como símbolo de empoderamento feminino e luta por justiça social. “Senhor dos Anéis” não é sobre povos diferentes unidos contra um mal comum, a importância de amigos e o mal e a fragilidade do poder?

Em 1963, “X-Men” surge como um grupo de heróis que são excluídos e perseguidos socialmente. Em 1966, no auge dos conflitos e perseguição racial norte-americana, é lançado “Pantera Negra”, e em 1973, “Nubia”, da DC, ambos em um período intenso de racismo e lutas. Em 1988, “Extrãno”, também pela DC, e em 1992, “Estrela Polar”, da Marvel, revelaram sua homossexualidade gerando um impacto social, pois até então os dois estúdios não tinham personagens dentro dessa representatividade.

Os clássicos geeks – sejam em filmes, livros, HQs – sempre primaram por inquietar temas sociais, raciais e de gênero. O movimento sociopolítico que existe hoje é contraditório a essa história! Quem vos escreve é muito consciente dos roteiros ruins que têm surgido em produções atuais, contudo, isso não é atrelado à cultura woke. Afinal, ser woke é incrível, ser woke é não ser preconceituoso, ser woke é saber que o mundo não é uma bolha onde somente o que eu vivo e acredito importa.

Claro que trazer temas sociais para uma produção e usá-los sem base e profundidade, dá errado e não atrai o público. Sou crítico de muitas dessas produções que só jogam um tema super sério numa cena de impacto com a expectativa de que isso gere crítica positiva à produção. Mas é fato que a cultura woke é necessária e essencial diante dos retrocessos sociais e humanos que temos vivenciado nos últimos anos…

Que possamos seguir crescendo em produções de ficção que tragam temas importantes para nossa sociedade, mas que o façam sempre com qualidade e dedicação! Avante!

*Andrei Viana é pedagogo e produtor de conteúdos relacionados à cultura geek. Criador do canal do YouTube PadaYou, também participa da programação e realiza a cobertura de eventos do segmento. No Instagram @1padayou, divulga diversos materiais sobre o universo nerd.

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