No segundo dia após o início do Conclave, a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina anunciou ao mundo que os 133 cardeais eleitores escolheram um novo sucessor de Pedro – sim, porque o Papa nunca é sucessor do seu predecessor, mas do Apóstolo Pedro, primeiro chefe do colégio apostólico. Após muita expectativa, com apostas sobre quem seria o eleito, se seria um dos apontados como favoritos, somos tomados por duas surpresas: Roberto Francis Prevost, um desconhecido, norte-americano, da Ordem dos Agostinianos, atual Prefeito do Dicastério para os Bispos; e o nome escolhido: Leão XIV.
O nome escolhido por um Cardeal quando é eleito Papa diz muito: linha de pensamento, espiritualidade, influências teológicas, etc. Assim, para tentar entender o porquê da escolha desse nome – e trata-se apenas de uma tentativa, pois somente o próprio Papa pode saber as motivações que o levaram a essa escolha, e penso que nos próximos dias ele esclarecerá – devemos olhar para o último Papa que adotou o nome Leão.
Quando o Papa Pio IX faleceu, em 7 de fevereiro de 1878, os cardeais elegeram para sucedê-lo o Cardeal Camerlengo Gioacchino Pecci, que adotou o nome de Leão XIII. Governou a Igreja por 25 anos, até 1903. Foi um Papa que marcou sua época, não somente pelo tempo do seu pontificado, mas também pelas encíclicas, que expressaram seu pensamento.
Leão XIII foi o Papa que iniciou a sistematização da Doutrina Social da Igreja, com a Encíclica Rerum novarum, de 1891, onde abordou as questões relativas ao trabalho, capitalismo e socialismo, escreveu a Encíclica In Plurimis sobre a questão da abolição da escravidão no Brasil, e presenteou a Princesa Isabel com a Rosa de Ouro por ter assinado a Lei Áurea.
Assim, podemos ter uma ideia da linha do novo Papa Leão XIV. Além disso, ele é agostiniano, uma ordem religiosa fundada no século XIII, que segue a forma de vida determinadas por Santo Agostinho às comunidades que fundou em sua vida. Santo Agostinho era um homem austero, disciplinado, que fez a experiência da misericórdia divina ao mudar de uma vida desregrada para os mandamentos de Deus, e escreveu grandes tratados teológicos, como “A Graça”, onde explanou os princípios da graça divina. Isso pode dar um caráter mais contemplativo ao papado.
Em seu discurso no balcão da Basílica de São Pedro, Leão XIV deu o tom do seu pontificado. Que a paz esteja convosco. Irmãos, irmãs, caríssimos, esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado, o bom pastor, que deu a vida pelo rebanho de Deus. Também eu gostaria que esta saudação, de paz, entrasse no vosso coração, alcançasse vossas famílias, a todas as pessoas. Onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra, a paz esteja convosco. A paz, tema tão caro ao Papa Francisco, que foi lembrado e saudado pelo novo pontífice. Falou sobre a sinodalidade, a missionariedade, sobre construir pontes, temas que também estavam na pauta do Papa falecido. Assim, podemos intuir que Leão XIV siga na mesma linha de Francisco. Devemos buscar juntos como ser igreja missionária, uma igreja que constrói pontes, que dialoga, sempre aberta a receber como esta praça de braços abertos, a todos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do diálogo, de amor.
Mas quem é Robert Francis Prevost? Norte-americano nascido em Chicago em 1955, que ingressou no seminário menor agostiniano aos 16 anos. Aos 20 obteve o título de bacharel em Matemática, e aos 27 foi ordenado padre. Passou boa parte de sua vida como padre no Peru, onde foi nomeado bispo de Chyclaio pelo Papa Francisco. Em 2023, foi nomeado Prefeito para o Dicastério dos Bispos, e em 2024 foi criado Cardeal. Como bispo de Chyclaio manifestou-se contra a implementação da ideologia de gênero nas escolas, e é conhecido por ser um moderado, com bom diálogo entre conservadores e progressistas.
Que Leão XIV tenha um pontificado frutuoso, abençoado por Deus, que saiba construir pontes com as nações e com os não-crentes.
*Padre Fabiano Glaeser dos Santos atuou por muitos anos em Gravataí e atualmente é o pároco da Igreja Nossa Senhora Medianeira, de Eldorado do Sul. É bacharel em História e doutorando em Teologia pela PUCRS, além de Defensor do Vínculo no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Porto Alegre.